Contagiante e envolvente, “Um Ser de Luz” mostra que Mariene de Castro reina segura no terreiro de Clara Nunes

Dentre as diversas homenagens à Clara Nunes que pipocam desde o ano passado por conta dos 70 anos da grande sambista, a de maior destaque é, sem dúvidas, a de Mariene de Castro. Lançado em cd e dvd ao vivo numa iniciativa do Canal Brasil, o show-tributo já veio a São Paulo no mês de março, com sucesso. De volta à cidade, esse “Um Ser de Luz”, apresentado em duas noites no Sesc Belenzinho, não é o mesmo. E é bem melhor.
No texto que antecede a emocionante interpretação da canção que dá nome ao espetáculo – inspirada parceria entre Paulo César Pinheiro, João Nogueira e Mauro Duarte – Mariene de Castro reforça o conceito de tributo à Clara Nunes sem meias palavras – agradecendo, se dizendo influenciada, homenageando. Mas o repertório, ainda que calcado nos maiores sucessos da sambista mineira, inclui também números do ótimo “Tabaroinha”, o mais recente trabalho de carreira da baiana, que já vinha sendo mostrado pelo país quando apareceu o convite do Canal Brasil para o projeto do dvd. E é aí que o jogo se transforma em clássico.
Inteligente na costura do (longo) roteiro de 28 canções, Mariene, em quase duas horas de apresentação, reina segura em cena. Mesmo que os adereços e figurinos criados por Wilson Ranieri façam alusão direta à marcas de estilo da Clara Nunes, é a personalidade de Mariene de Castro que sobressai durante todo o show. Aberto com três sucessos da cantora mineira, “Minha Missão” (João Nogueira e Paulo César Pinheiro), “Guerreira” (João Nogueira e Paulo César Pinheiro) e “Menino Deus” (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro) a noite que começa quente melhora ainda mais quando o repertório de Tabaroinha entra em cena dialogando sem sustos com os clássicos de Clara. Números como “A Pureza da Flor” (Arlindo Cruz, Dom e Babi), “Filha do Mar” (Flávia Wenceslau) ou “Amuleto da Sorte” (Nelson Rufino) não soam estranhos mesmo frente à obras primas como “Juízo Final” (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares) e “Coração Leviano” (Paulinho da Viola) que aparecem na primeira parte do espetáculo.
Linkando o samba de roda do recôncavo baiano aos sambas de morro e avenida do repertório da mineira mais carioca, a cantora consegue sair do perigoso ambiente do simples cover. Também o sincretismo religioso dos sambas de acento afro, com os arranjos da banda que privilegia o conjunto percussivo, é um aparente elo entre duas carreiras de gerações distantes e permeia todo o show em temas como “Ponto de Nanã”, composição de 2007 de Roque Ferreira e “Ogum” (Claudemir e Marquinhos PQD), samba do repertório de Zeca Pagodinho ou mesmo, mais sutil, em “Ijexá” (Edil Pacheco), vêm com força envolvente.
Ao fim da noite, o bis com “Ê Baiana” (Fabricio Da Silva/Baianinho/Enio Santos Ribeiro/Miguel Pancracio), dona dos versos “Baiana boa / Gosta do samba / Gosta da roda / E diz que é bamba”, fez óbvia a contagiante sintonia de Mariene e Clara, de Minas, Rio e Bahia.
Belo show.
Veja algumas fotos. Aqui.
Mariene de Castro – Um Ser de Luz
Quando: 12.7.2013
Onde: São Paulo – Sesc Belenzinho
Review: * * * *
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