
O projeto 73 Rotações, que abarca a ideia de reviver grandes discos lançados em 1973, teve sua noite de estreia marcada pelo revival do primeiro álbum dos Secos e Molhados. A escolhida para encabeçar essa tarefa, a princípio inglória, foi a cantora Karina Buhr.
O disco, personalíssimo, já contou com muitas homenagens, tributos e regravações nos últimos 40 anos – a mais recente delas ainda em 2013, teve nomes da cena indie nacional errando mais que acertando nas tentativas. Porém, nenhuma chegou perto da força motriz do original e algumas se mostraram mesmo constrangedoras. Dentro da discografia pop brasileira, a estreia dos Secos e Molhados guarda lugar entre o que de mais impressionante já apareceu neste cenário.
Mas Karina e a banda competente que a acompanhou na empreitada, souberam driblar todas as armadilhas esbanjando competência e categoria, resultando num ótimo show. Sem grandes invenções e sem pirotecnia para mostrar novidades, Karina que já tem personalidade artística de sobra, fez o básico e acertou. Veio reverente, atualizou a sonoridade do álbum sem descaracterizá-lo e acabou ovacionada. Com merecimento.
Ainda no início do espetáculo, a versão pesada de “O Patrão Nosso de Cada Dia”, com a guitarra cheia de ecos de distorções de Fernando Catatau, foi o primeiro momento arrebatador de uma noite que teria outros vários. “Fala”, apareceu com sentida interpretação da baiana valorizando os versos de João Ricardo e Luhli. Em abordagem performática e bluesy, “Primavera no Dentes” deixou bem claro que o universo artístico da Karina Buhr se distingue bastante das suas colegas de geração – pra melhor. Lembrando as atuações explícitas de Ney Matogrosso, “Rondó do Capitão”, “Mulher Barriguda” e, na volta pro bis, “O Vira” cinzelaram com sagacidade o espírito daquela época, sem parecerem datados.
Pela primeira vez (pelo menos que eu tenha notícia), um olhar nesta esta estreia do Secos e Molhados foi levado aos palcos com talento e acertos muito acima da média.
A banda que acompanhou Karina Burh – Guizado (trompete), Fernando Catatau (guitarra), Regis Damasceno (violão), Mau (baixo), Marcos Levy (teclados) e Clayton (bateria), também responsáveis pelo êxito da noite.
Alguns vídeos (mambembes) podem ser vistos aqui – “Amor”, “Assim Assado“, “O Vira“.
O setlist dos Secos e Molhados por Karina Buhr
1. Sangue Latino (João Ricardo / Paulinho Mendonça)
2. O Vira (João Ricardo /Luhli)
3. O Patrão Nosso de Cada Dia (João Ricardo)
4. Prece Cósmica (João Ricardo / Cassiano Ricardo)
5. El Rey (João Ricardo / Gerson Conrad)
6. Rosa de Hiroshima (Gerson Conrad / Vinícius de Moraes)
7. Fala (João Ricardo / Luhli)
8. Amor (João Apolinário / João Ricardo)
9. Primavera nos Dentes (João Apolinário / João Ricardo)
10. Assim Assado (João Ricardo)
11. Rondó do Capitão (João Ricardo / Manuel Bandeira)
12. Mulher Barriguda (João Ricardo / Solano Trindade)
13. Bis – Amor
14. Bis – O Vira
73 Rotações – Karina Buhr tocando Secos e Molhados
Quando: 26.9.2013
Onde: Teatro do Sesc Santana – São Paulo
Review: * * * *
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